Como identificar um brasileiro viajando em Paris

O ano de 2010 já tinha sido impressionante, mas nada se comparou ao verão de 2011: a quantidade de turistas brasileiros circulando por Paris era gigantesca. Apesar de tudo no Brasil estar mais caro do que o normal, os preços das passagens aéreas nunca estiveram tão bons. Junte a isso a possibilidade de parcelamento – mágica brasileira que não existe por aqui – e fica realmente acessível passar uma semana na França.

Brasileiros não só estavam viajando a Paris naquela época como estavam gastando. Na loja da Channel da Avenue Montaigne, perpendicular à Champs Elysées conhecida pelas lojas de marcas caras, uma vendedora me contou que as brasileiras esgotaram o esmalte do tipo “Kiwi”. Em outra loja, de óculos escuros, essa na própria Champs Elysées, uma amiga que era vendedora dizia que brasileiros não só eram muitos como compram demais: gastavam em torno de mil euros por pessoa em três ou quatro óculos por vez. A própria Galerie Lafayette estava contratando vendedoras e recepcionistas que falem português para atender a essa clientela.

No plano comportamental, li esses dias um texto sobre as principais gafes cometidas por brasileiros no exterior. Achei um tanto exagerado. Tirando o desrespeito aos pedestres, todas as outras “gafes” não passam de hábitos e costumes brasileiros que não agridem em nada os locais ou outros estrangeiros.

Um exemplo: o fato de tomarmos mais banhos do que os europeus – não é mito, é verdade – jamais vai se tornar um problema, como diz o texto. Acabei de passar alguns dias na casa de praia de um amigo, com uma turma, e o fato de eu tomar mais banhos do que os franceses virou motivo de risada – e não constrangimento.

Talvez pela tradição de imperialismo em terras distantes e exóticas, o francês médio é bastante aberto a hábitos e costumes de outros países – e não me venha com o caso do garçom que foi mal educado com você no restaurante. Experiência de turista está longe de ser um bom parâmetro para avaliar o comportamento de um povo.

Mas voltando aos turistas brasileiros, não só pelo português dá para identificá-los circulando pelas ruas. Alguns detalhes visuais são inconfundíveis nos conterrâneos: tênis Nike de corrida e camisa de futebol é o que mais entrega. Não só Nike, mas qualquer marca de tênis de corrida – é uma moda nacional que só ao ir morar fora do Brasil a gente se dá conta.

Tênis de corrida, por aqui, são usados para… correr. E ninguém usa camisa de futebol, apesar de ser o esporte mais popular do país, como no Brasil.

Outro detalhe que entrega o brasileiro é falar alto – mas nisso não nos diferenciamos de nenhum outro latino-americano. Mas se tem um hábito brasileiro que eu vi ao longo de todo o verão e que não tem nada de divertido ou curioso é o de infringir a lei e não dar o braço a torcer, achando um absurdo por ter sido pego – qualquer semelhança com políticos corruptos flagrados roubando e que negam até a morte não é mera coincidência.

Pois isso acontece muito aqui no metrô: pelo menos duas vezes vi brasileiros flagrados sem bilhete pela fiscalização. São multados no ato e tentam emplacar todas as histórias possíveis e imagináveis – “Eu perdi o ticket!”, “A roleta estava aberta na entrada!”. Os fiscais, é claro, não querem saber e cobram (a multa fica em torno de 70 euros). Tentar explicar, tudo bem. O problema é o que vem em seguida: brasileiros, sem exceção, começam a dar um discurso sobre o absurdo daquela cobrança, indignadíssimos! Onde já se viu aplicar a lei?! E saem a detonar o país, dizer que é uma porcaria de país, que não tem cabimento, etc, etc, cheios da razão.

O discurso “indignado” do brasileiro contra a fiscalização – quando ele é claramente o errado na situação – diz muito sobre nossa cultura e mostra como o crescimento do PIB é o menor dos nossos problemas rumo ao desenvolvimento.

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Connard, flâneur, ringard.

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